Covid-19: “Mortes por desespero” podem chegar a 75.000 pessoas nos EUA

Covid-19: “Mortes por desespero” podem chegar a 75.000 pessoas nos EUA

15 de junho de 2020, por Alexandre Zatera em Saúde

Até 75.000 norte-americanos podem morrer por suicídio, excesso de consumo de bebidas alcoólicas ou drogas por causa da pandemia de Covid-19 (sigla do inglês, Coronavirus Disease 2019), sugerem as projeções de um novo relatório nacional dos Estados Unidos publicado no dia 08 de maio.   O número das “mortes por desespero” pode ser ainda maior se os EUA não adotarem medidas contundentes para abordar as questões relacionadas com a saúde mental provocadas pelo aumento do desemprego, pelo isolamento e pela incerteza, de acordo com o relatório do Well Being Trust (WBT) e do Robert Graham Center for Policy Studies in Family Medicine and Primary Care.

“Se não acontecer nada e nada melhorar – ou seja, o pior cenário possível – podemos ter a perspectiva de mais 150.000 mortes desnecessárias”, disse ao Medscape Benjamin Miller, diretor de estratégia do WBT.

“Nós podemos evitar essas mortes. Sabemos como e temos um punhado de soluções baseadas em evidências. Não temos recursos para implementar isso de forma a impactar positivamente as comunidades”, acrescentou Benjamin.

Diferentes cenários

Benjamin e colaboradores combinaram informações sobre o número de mortes por suicídio, consumo excessivo de bebidas alcoólicas e de drogas tomando 2018 como ponto de partida (N = 181.686). Os pesquisadores fizeram projeções dos níveis de desemprego de 2020 a 2029 e, a seguir, utilizaram modelos econômicos para estimar o número anual de mortes adicionais.

Em nove cenários diferentes, o número de mortes adicionais por desespero variou de 27.644 (recuperação rápida, menor o impacto do desemprego nas mortes relacionadas com suicídio, consumo de bebidas alcoólicas e drogas), a 154.037 (recuperação lenta, maior impacto do desemprego neste tipo de morte) com 75.000 sendo o mais provável.

O relatório oferece várias soluções de estratégias institucionais para evitar um surto de “mortes evitáveis”. Dentre as quais está encontrar maneiras de melhorar os efeitos do desemprego e oferecer um trabalho significativo para aqueles que estão fora do mercado de trabalho. Facilitar o acesso ao atendimento na saúde e integrar inteiramente a saúde mental e o tratamento da dependência química no atendimento primário e clínico, bem como em pontos na comunidade, o que é essencial.

Essas soluções também devem servir para evitar o uso indevido de drogas e bebidas alcoólica e o suicídio em tempos normais, dizem os pesquisadores.

Benjamin acredita que é hora de o governo federal apoiar inteiramente um quadro de excelência em saúde mental e bem-estar, além de investir na saúde mental.

“Em curto prazo, precisamos de pelo menos 48 bilhões de dólares para manter o sistema atual operante”, disse Benjamin.

“Isso porque 92,6% das instituições psiquiátricas tiveram de reduzir suas atividades de algum modo, 61,8% tiveram de encerrar completamente pelo menos um programa e 31,0% tiveram de recursar pacientes. Este cenário não é ideal para as pessoas que precisam de um sistema que as ajude neste exato momento durante a crise”, acrescentou.

Em longo prazo, serão necessários 150 bilhões de dólares para uma “enorme” reestruturação do sistema de saúde mental, disse Benjamin.

“Isso significa trazer a saúde mental para todas as dimensões do nosso sistema de saúde, da nossa comunidade. O que irá exigir investimentos robustos para a criação de novos mecanismos de atendimento – atendimentos em equipe, criação de um novo tipo de força de trabalho para prover esse atendimento e sua integração ao atendimento clínico e comunitário”, disse Benjamin.

O relatório completo está disponível on-line.

Fonte: Medscape 

 

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